terça-feira, 18 de outubro de 2011

Diário de Santa Maria

15/10/2011 | N° 2952

CULTURA
Mandamos lembranças daqui


Carta de imigrante tcheco em Jaguari é encontrada na Europa e torna-se livro bilíngue Joseph Egert talvez duvidasse que a correspondência enviada da colônia de Jaguari aos amigos chegasse ao objetivo, nos então países tchecos. A carta alcançou o seu destino cruzando o Oceano Atlântico ? ou ?charco grande?, como Egert menciona. Mas o que ele certamente não imaginava é que essa carta voltaria da República Tcheca para o município de Jaguari na forma de livro. A publicação foi editada como parte da comemoração dos 91 anos de emancipação do município, festejados em agosto.
Um dos descobridores da carta e incentivadores da preservação da memória dos imigrantes é o vice-prefeito e secretário de Educação de Jaguari, Milton Bolzan. Em janeiro de 2010, ele recebeu, enquanto prefeito interino, um visitante inesperado vindo da República Tcheca especialmente para conhecer Jaguari. Petr Polakovic é voluntário do museu da emigração tcheca, localizado na cidade de Mladá Boleslav, na República Tcheca. Após uma exposição etnográfica, que foi realizada pela primeira vez em 1893 (citada no texto da carta) e pela segunda vez, cem anos depois, Petr descobriu a correspondência e decidiu visitar o lugar onde ela foi escrita.
Ele trazia aquela carta que era uma preciosidade, tanto do ponto de vista histórico quanto do cultural. Na hora, manifestei o meu apoio em preservar e divulgar o texto e, como a prefeitura não pôde ajudar, eu mesmo financiei parte da publicação conta Bolzan, que é professor de história.

O conteúdo


A carta que o imigrante Joseph Egert escreveu em 1894, três anos depois de chegar ao Brasil com a família, conta o dia a dia na colônia de Jaguari, que recebeu europeus de diferentes nacionalidades da metade final do século 19 até o início do século 20. Joseph Egert registra a visão do imigrante sobre fatos históricos como a Revolução Federalista, que atingiu boa parte do território do Rio Grande do Sul e deixou marcas mesmo nas comunidades que não se envolveram politicamente na revolução. Proveniente da região da Boêmia, hoje pertencente à República Tcheca, Joseph Egert também relata que viajava frequentemente do interior para a sede de Jaguari e também para Rosário do Sul e Santa Maria, em função do comércio da produção agrícola.
A carta evidencia que, mesmo que os italianos sejam a maioria no município, outras etnias ajudaram a formar a diversidade cultural de Jaguari, mas acabaram ficando esquecidas, o que não podemos deixar acontecer acrescenta Bolzan.

De acordo com o que escrevia Joseph Egert aos seus compatriotas, desentendimentos entre colonos de diferentes etnias eram comuns. Um desafio que logo se apresentava era aprender o idioma local para facilitar o convívio. Joseph Egert chegou a falar quatro idiomas: tcheco, polonês, alemão e português. Além de relatar os diferentes produtos que aprendeu a plantar e colher na terra nova, que não tinha neve no inverno e permitia que o trabalho no campo durasse o ano inteiro, Egert dá a dica:
Se alguém do nosso país quiser vir para cá, escrevam-me primeiro ou eles que escrevam antes, darei os conselhos necessários.

JULIANA GELATTI | ESPECIAL

Fonte: http://www.clicrbs.com.br/dsm/rs/impressa/0,18165,capa_offline

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